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2020-02-10
Saúde mental continua à procura de respostas. E de dinheiro
"As perturbações mentais em Portugal estão presentes em mais de um quinto da população. Ou seja, mais de 2 milhões de pessoas sofrem de algum tipo de distúrbio relacionado com a saúde mental. Somos o segundo país da Europa com a maior taxa de prevalência de doenças psiquiátricas, que no total representam 11,8% da carga global das doenças, apenas ultrapassadas pelas cerebrocardiovasculares. Falamos de distúrbios que em 65% dos casos estão sem tratamento e que anualmente provocam perdas de mais de €300 milhões na economia. Como combater da melhor forma este flagelo? Se é certo que o Orçamento do Estado para 2020 contempla um reforço de €180 milhões para esta área, o financiamento continua a ser um dos problemas. “O panorama atual caracteriza-se por uma grave falta de investimento nos recursos necessários para a implementação de medidas que estão bem definidas no Plano Nacional de Saúde Mental (PlNSM)”, aponta Tiago Santos, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Mental e assessor do PlNSM. “Esse investimento traduz-se, em concreto, num aumento dos recursos humanos, não apenas médicos, para o desenvolvimento de um modelo de intervenção comunitária”, aponta o psiquiatra. Esquizofrenia, Alzheimer e outras psicoses — as chamadas doenças graves — afetam 4% da população adulta. Fonte oficial do Ministério da Saúde garante que se está a trabalhar no “alargamento de internamento para doença aguda em hospitais gerais” e no “reforço das respostas em proximidade pela criação de dez equipas comunitárias de saúde mental junto de todas as administrações regionais de saúde”. Falta acompanhamento Medidas que vão no sentido certo mas que ainda pecam pela escassez, segundo Joaquina Castelão. A presidente da Federação Portuguesa das Associações das Famílias de Pessoas Com Experiência de Doença Mental (FamiliarMente) atira que “a maior parte das medidas do PlNSM não foram aplicadas”, apesar de o plano ter sido lançado em 2008 e revisto em 2017 com um olho em 2020. Destaca a importância das equipas multidisciplinares e de uma maior articulação com os cuidados de saúde primários, para que os diagnósticos precoces sejam mais eficazes. Sem esquecer as assimetrias regionais que também aqui são a norma. “Se houver um problema no Alentejo, o doente é enviado para Lisboa e depois regressa para casa sem apoio nem acompanhamento. Seja o que Deus quiser”, atira. A falta de vagas para internamento e de acompanhamento após o diagnóstico também é alvo de críticas, com a FamiliarMente a apontar a existência de 366 lugares no SNS e Sector Social Convencionado para cuidados continuados nas doenças mentais muito graves e incapacitantes, com “apenas” 255 a estarem preenchidos. Diz o Ministério da Saúde que “o internamento deve ser absolutamente residual e apenas pelo período considerado clinicamente necessário à estabilização”, e que o “tratamento subsequente deverá evoluir em ambulatório”. A política passa, por isso, pela “redução do número de camas de internamento e o encerramento e/ou reconfiguração dos hospitais psiquiátricos”. Enquanto se tentam colocar em prática novas estratégias e responder às ânsias dos doentes e dos cuidadores, velhos problemas subsistem. Como “as nossas condições de vida, consumos elevados de bebidas alcoólicas, falta de programas de promoção da saúde e promoção da doença”, defende o psiquiatra e professor na Universidade do Minho, Pedro Morgado. Comportamentos aditivos são responsáveis por cada vez mais problemas e o especialista fala da necessidade de implementar “um plano de literacia em saúde mental que atinja todas as faixas etárias”. Cada português bebe em média 10,7 litros de bebidas alcoólicas, por ano, valores superiores à média europeia de acordo com o Health at a Glance da OCDE, por exemplo. A falta de respostas eficazes resulta num elevado consumo de psicofármacos em comparação com os outros países europeus, que, de acordo com os dados da DGS e do Infarmed, afirma Tiago Santos, tem como consequência o “número simbólico de mais de 10 milhões de prescrições por ano, mais de uma embalagem de psicofármaco por habitante”. Situação que piora no campo dos ansiolíticos, onde “o volume de vendas coloca Portugal em primeiro lugar comparativamente com todos os outros países da OCDE”, aponta a deputada do Partido Socialista e presidente da Comissão de Saúde da Assembleia da República, Maria Antónia Almeida Santos. Se a “saúde mental é a base do bem-estar” não é aceitável que seja “um mero apontamento de circunstância”." Fonte: https://expresso.pt/sociedade/2020-02-10-Saude-mental-continua-a-procura-de-respostas.-E-de-dinheiro



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